E quando eu olho para esse espelho, eu vejo uma mulher negra, com privilégios, sim. Eu sou um recorte dentro de uma sociedade que ainda está aprendendo a lidar com a própria sombra. Mas privilégio nenhum apagou o racismo que vivi no Brasil, em Portugal, na Itália e em outros lugares onde a minha cor chegou antes da minha voz.
Cresci sendo uma criança negra criada por uma família branca que nunca me deixou diminuir quem eu era. Pelo contrário: me ensinaram a exaltar a minha cor, a minha ancestralidade e a minha história. Ensinaram-me que não é o turbante, a bandeira no braço ou o grito que define a minha identidade, e sim a forma como eu caminho no mundo.
Aprendi cedo que consciência não é performance.
Consciência é presença.
Aos 43 anos, entendi que existem mil maneiras de honrar quem eu sou sem ferir ninguém, sem apontar dedos, sem replicar dor. A psicanálise ensina: aquilo que dói demais, a gente transforma; aquilo que pesa, a gente ressignifica; aquilo que machuca, a gente não entrega de volta, a gente devolve curado.
E foi assim que escolhi viver: contribuindo.
Hoje eu lido com empresários de diversas áreas e países. Faço mentorias, terapias, consultorias, palestras, lidero equipas, tenho empresas em dois países e estou abrindo a terceira nos Estados Unidos. Ocupo cargos de liderança, como vice-presidente na Câmara de Comércio Brasil-Portugal, e sigo construindo pontes onde antes existiam abismos.
E tu achas mesmo que quando eu chego nesses ambientes não surgem os olhares do tipo:
“Como assim essa guria chegou até aqui?”
Sim, meu amor.
Surgem.
E, por incrível que pareça… eles me motivam ainda mais.
Porque eu sei que, quando empresários, equipas, colaboradores e profissionais passam pelos meus atendimentos, sejam mentorias, terapias ou consultorias, algo profundo acontece.
Eu vejo mulheres retomando o brilho da própria vida.
Vejo empresários que finalmente conseguem se expressar.
Vejo equipas alinharem propósitos.
Vejo profissionais fazerem sua transição de carreira com clareza, confiança e rumo.
E isso tudo acontece porque ali está a profissional que estudou muito, com profundidade, propósito e consciência.
A profissional que mergulhou na Astrologia, que honra seus Orixás, sua ancestralidade e a força espiritual que sempre a guiou.
Que se dedicou à Neurociência, à Hipnose, ao estudo da mente, da energia e do comportamento humano.
A profissional que tem certificações internacionais na França e na Argentina, ampliando sua visão e metodologia.
Que é formada em Oratória e Retórica por Harvard, entendendo como a palavra, a presença e a comunicação podem transformar vidas.
E que segue evoluindo, hoje cursando um mestrado na Universidade Europeia, unindo ciência, espiritualidade, energia, metodologia e estratégia num único propósito: transformar pessoas de verdade.
E isso me enche de alegria porque, naquele momento, nós quebramos uma barreira muito maior do que parece.
Ali, não está apenas “a mulher negra”.
Ali está a profissional consciente, preparada, intuitiva, científica, espiritual e internacional,
capaz de orientar qualquer pessoa pelo melhor caminho, seja pela alma, pela mente, pela energia ou pela estratégia.
Quando a competência chega antes da cor,
o preconceito perde completamente o lugar.
É por isso que o Dia da Consciência Negra importa tanto.
Porque ele não fala só de passado.
Ele fala de futuro.
Fala de igualdade racial como dever, não como “mimimi”.
Fala de oportunidades, de voz, de dignidade e de espaço.
É um dia para lembrar que a luta não é contra pessoas, é contra estruturas.
Não é contra histórias, é contra repetições.
Não é contra cor, é contra cegueira.
20 de novembro existe para lembrar o óbvio:
a humanidade é preta, branca, parda, indígena, azul-turquesa se quiser.
Somos múltiplos, amplos, misturados e infinitos.
O que não pode continuar sendo… é desigual.
Reflexão Final
A consciência negra não é uma pauta para um dia,
é um convite para todos os dias.
E cada um de nós carrega a responsabilidade de transformar o ambiente que toca, a conversa que inicia, o preconceito que enfrenta ou presencia, o espaço que ocupa.
A verdadeira igualdade começa quando entendemos que a luta de um é, inevitavelmente, a construção de todos.
E quando uma vida preta avança…
a humanidade inteira avança junto.
E eu?
Eu sigo aqui.
Sendo mulher.
Sendo negra.
Sendo empresária, mentora, palestrante, vice-presidente, CEO e terapeuta.
Sigo sendo a Fênix que renasce… e faz renascer.
